Belém deixa antigo bonde campineiro na garagem


Por Cecília Polycarpo

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Um antigo bonde que circulou até 1968 em Campinas, totalmente reconstruído com as características originais, permanece aposentado em Belém do Pará.

O veículo foi comprado pela Prefeitura da cidade em 2004 e fez um pequeno percurso no Centro Histórico até 2010, mas parou de circular.

Agora, o bonde aguarda projeto executivo da Administração de Belém para voltar aos trilhos no ano que vem.

Com a carcaça do bonde de Campinas, uma oficina de Santos fabricou uma réplica de um modelo de 1910, hoje propriedade da Prefeitura de Belém.

O veículo, que fazia parte do transporte público de Campinas, foi comprado por um restaurador de Sorocaba em 1970, onde ficou durante três décadas exposto no Frango Assado do Louveira.

A empresa Clinmaq, de Santos, adquiriu o veículo em 2004, quando a Prefeitura de Belém fez a oferta para comprar o bonde. Antes de vendê-lo, a Clinmaq restaurou o veículo.

O trabalho durou seis meses e incluiu uma pesquisa histórica e mão de obra de 12 funcionários.

Foram usadas peças originais, de mais de 100 anos, e outras confeccionadas nos moldes de bondes do início do século 20.

Os nove bancos foram feitos de palha, as luminárias são típicas da época, assim como a chave-geral, que interrompe o funcionamento em casos de curto circuito.

O relógio contador, que controlava o número de pessoas que entravam no bonde, também é histórico. Foi preservada a numeração original de quando ele ainda circulava por Campinas, 110.

O veículo tem ainda peças pesadas em bronze e até as letras estampadas nos vidros jateados são do padrão do início do século passado.

Embora tenha a parte estrutural idêntica à de um bonde de 1910, o veículo conta com um moderno sistema elétrico e eletrônico.

Além do aparelho de CD e amplificador para dois microfones sem fio, foram instaladas oito caixas de som, embutidas na iluminação, e um dispositivo automático para o freio. O valor do restauro não foi revelado.

História

O historiador do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc) Henrique Anunziata explicou que a carcaça fez parte do segundo lote de bondes encomendados pela extinta Companhia Campineira de Tracção Luz & Força, em 1912, a empresa americana J. G. Brill Company, na Filadélfia.

Especialista na história dos bondes no município, Anunziata disse que até em 1933 o 110 era aberto, mas foi reformado com outros veículos da cidade.

Avenida Barão de Jaguara, em Campinas, em 1931

“A Prefeitura resolveu fechar a frente e a lateral dos bondes para condutores e passageiros não tomarem mais chuva e não ficarem expostos ao sol.” Com a mudança, a carroceria foi redesenhada e ganhou mais dois bancos — nove no total.

Em 1946, a companhia deixa de operar e a Companhia Paulista de Força e Luz assume os bondes até 1952, quando desiste do sistema.

Um acordo entre Prefeitura e Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic) cria a Sociedade Campineira de Transportes Elétricos, dois anos mais tarde transformada em Companhia Campineira de Transportes coletivos, que começa a operar bondes e ônibus.

“Em 1965, a Prefeitura anunciou que iria deixar de operar o transporte por trilhos e estipulou o prazo de três anos para a transição completa para os ônibus. Assim, os bondes deixaram de funcionar em 1968”, completou o historiador.

O leilão dos 14 bondes foi feito em 1970 e o 110 foi comprado por José Mamprin, antigo dono da unidade do Frango Assado de Louveira.

Mas, apesar de sua história e de ter sido todo reformado, o bonde está disponível apenas para visitação em Belém, na garagem de um prédio da Avenida Portugal.

Jorge Pina, diretor do Departamento do Patrimônio Histórico de Belém disse que “entraves políticos” impediram que o bonde circulasse durante quatro anos.

“Ele foi planejado pela gestão de 2005, mas depois, com a manutenção, foi deixado de lado por governos seguintes, até parar completamente.”

Pina disse que a Secretaria de Mobilidade Urbana de Belém termina o projeto para que ele percorra pelo menos cinco quilômetros do Centro no ano que vem. Segundo ele, a circulação depende da construção de mais trilhos.

Exposto em Jaguariúna

A lembrança afetiva dos bondes de Campinas fez o prefeito de Jaguariúna, Tarcisio Chiavegato (PTB), adquirir um dos veículos em seu primeiro mandato, em 1989. O bonde 119, também comprado em 1912 pela Prefeitura campineira, estava em uma fazenda do distrito de Sousas, deteriorado.

“Comprei para reformar, mas o projeto acabou não dando certo. O bonde ficou encostado aqui durante anos e agora vamos reformá-lo”, disse Chiavegato.

A ideia é que a reforma esteja pronta até 2016 e que o veículo fique em exposição na Estação Jaguariúna, onde funciona uma linha turística de maria-fumaça que liga a cidade a Campinas.

O prefeito afirmou que pegava, na década de 50, bondes para ir do Centro de Campinas até o Liceu Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora.

“Os bondes me trazem uma memória muito boa de uma Campinas antiga, que tinha apenas 100 mil habitantes.” À época, os veículos iam do Centro ao Taquaral, Botafogo, Vila Industrial, Guanabara e aos estádios Moisés Lucarelli e Brinco de Ouro da Princesa.

Foto: Agência Belém

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